Entenda como o pão de coco se tornou uma tradição de Páscoa no Ceará

  • 19/04/2025
(Foto: Reprodução)
Na última semana, a Assembleia Legislativa do Ceará reconheceu o pão de coco como um “bem de destacada relevância histórica e cultural do Estado do Ceará”. Como o pão de coco se tornou uma tradição de Páscoa no Ceará É uma mistura de fé, sabor e tradição. Ao longo do ano, é possível encontrá-lo nas padarias e nos supermercados, mas quando chega a Páscoa, é quase impossível desviar dele – se você mora no Ceará. Estamos falando do pão de coco, uma iguaria tradicional do estado amplamente consumida no período da Semana Santa. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Ceará no WhatsApp O pão de coco é semelhante ao chamado pão de massa fina – conhecido no Ceará como ‘sovadinho’ -, mas sua massa é mais adocicada e, como o nome entrega, leva coco ralado. Em algumas variações, é polvilhado com coco queimado ou mel. Ele é tão popular no Ceará que, na última semana, a Assembleia Legislativa (Alece) aprovou uma requisição reconhecendo o pão de coco como um “bem de destacada relevância histórica e cultural do Estado do Ceará”. O reconhecimento foi sancionado pelo governador do estado, Elmano de Freitas, na quarta-feira (16). “O pão de coco transcende a culinária e se firma como um elo entre gerações, presente em momentos afetivos, celebrações populares, cafés em família e lanches à beira-mar. Está incorporado às tradições do nosso povo, evocando memórias afetivas e reforçando laços culturais, tanto no litoral quanto no interior do Estado”, afirmou o deputado Romeu Aldigueri (PDT), presidente da Assembleia, que propôs a medida. Pão de coco foi reconhecido como bem de relevância histórica e cultural para o Ceará Davi Rocha/SVM Ao g1, o presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria do Ceará (Sindpan), Alex Martins, afirmou que, no período da quaresma, a procura pelo pão aumenta até 500%. Neste ano, o setor espera vender mais de 3,3 milhões de unidades de pão de coco. "Só aqui no estado do Ceará se fabrica o pão de coco, o verdadeiro pão de coco", afirma Alex Martins. "Nesse momento de quaresma é onde realmente se dá a cultura do cearense de comprar o pão de coco. Ele vira presente na mão dos cearenses, que compram muitos pães e dão de presente aos seus entes queridos, parentes, amigos, colegas" Apesar de ser muito popular no Ceará, o pão de coco não é facilmente encontrado – ou não faz parte da tradição de Páscoa - em outros estados do Brasil, o que faz a iguaria ser considerada uma tradição e um sabor tipicamente cearense. 🤔🥖 Afinal, de onde vem o pão de coco? É difícil rastrear a origem exata da receita do pão de coco. Não há relatos específicos sobre a iguaria em livros de história, de acordo com a professora de gastronomia e pesquisadora de alimentos tradicionais, Uiara Martins. “Se você perguntar hoje para uma pessoa que tem 100 anos, no Ceará, ela já vai dizer que existia, porque é uma tradição bem antiga. A gente não tem documentado em livro, em registro, assim, 'ah, é a origem do pão de coco'. Mas tem algumas coisas que vão dando apontamentos”, aponta a professora. Pão de coco é reconhecido como patrimônio histórico, cultural e imaterial no Ceará Agência Diário As pistas para a origem do pão de coco podem ser encontradas no processo de colonização. Não é raro encontrar, nos países cristãos, receitas especiais feitas no período da Páscoa. O pão guarda o simbolismo religioso da partilha, da comunhão e última ceia de Cristo. Em Portugal, que colonizou o Brasil, uma das receitas tradicionais da festa de Páscoa é justamente um tipo de pão - o folar de páscoa. Na Itália, por exemplo, há o pão conhecido como colomba pascal. Práticas semelhantes podem ser encontradas na Alemanha (o österbrot) e na Ucrânia (o paska). 📍Portanto, uma teoria é que, em determinado momento da história, durante o processo de colonização brasileira, houve a criação de uma receita de um pão especial no Ceará para celebrar a Páscoa. E o coco foi parar nela devido à sua abundância no estado e seus diversos usos na cozinha. "A gente não tem essa origem demarcada, o que a gente tem é essa relação muito forte com a influência portuguesa da produção de pães, que é de onde a gente adquire toda essa expertise; a gente tem essa relação com o simbolismo da igreja católica, da divisão do pão; e a gente tem essa influência do coco, que é um alimento tradicional do território cearense, do litoral cearense. É natural que ele vá aparecer numa preparação dessa de grande importância, porque tem uma relação com a comunidade” 🥥 O papel do coco na cozinha O coqueiro e seu fruto, o coco, é facilmente encontrado por todo o litoral do Ceará e pode ser visto em diversas preparações, sejam doces ou salgadas. O uso do coco na culinária, é claro, não é uma peculiaridade da cozinha cearense. No século XV, por exemplo, religiosos portugueses relatavam o uso de leite de coco para preparar alimentos em algumas regiões do continente africano, e o arroz-de-coco, especificamente, era considerado um prato para ocasiões especiais. Já no Brasil colonial, o historiador Câmara Cascudo relata que os colonizadores estimularam o plantio dos coqueiros no litoral. O leite de coco, feito a partir da fruta, estava associado às áreas urbanas, às cidades litorâneas, nas imediações de coqueirais, mas era pouco comum no interior. O coco não era encontrado em todo o litoral brasileiro, mas passou a ser plantado pelos portugueses Davi Rocha/SVM Comer o miolo do coco e beber a água do fruto era comum entre a população escravizada, de acordo com Cascudo. Com o tempo, se tornaram comuns os preparos de peixe e moqueca com coco, bem como doces. E a população do litoral que se mudava para o interior lá mandava plantar coqueiros. Algumas receitas portuguesas foram adaptadas e o coco serviu como substituto de frutas secas. Em Portugal, o quindim é feito com amêndoas; no Brasil, com coco. No passado mais recente, de acordo com a pesquisadora Uiara Martins, em cenários de escassez de alimentos, o coco era utilizado para uma espécie de substituto para verduras e outros elementos, ficando com a função de dar sabor à comida. “A fruta tem esse perfil de ser gordurosa. Do próprio coco se tira óleo dele. Se você torrar um coco, você vai ver ele levantar sabor. Na gastronomia, a gente sabe que gordura é bom porque é a gordura que dá sabor, certo? E o coco, ele tem esse contexto, ele entra nas preparações. Quando você bota o leite de coco numa preparação, o que ele faz? Ele levanta sabor. E ele faz isso por quê? Por causa da gordura que ele tem”, detalha Uaiara Martins. Hoje, o Ceará é o maior produtor de coco do Brasil, de acordo com a pesquisa Produção Agrícola Municipal de 2023 (PAM), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sozinha, a cidade de Paraipaba, na Grande Fortaleza, produziu 171 milhões de unidades de coco em 2023, se tornando a maior produtora do fruto no país. Aprenda a fazer um delicioso pão de coco; O pão, o coco e o fartes 😋 A hipótese do pão de coco como uma herança da panificação portuguesa, adaptada a ingredientes facilmente encontrados aqui no território brasileiro, não seria uma história exclusiva dessa iguaria tipicamente cearense. Na cidade de Sobral, na região norte do Ceará, até hoje é possível encontrar quem faça o doce fartes. Ele é considerado o primeiro doce a desembarcar no território brasileiro – ele aparece na carta de Pero Vaz de Caminha, o primeiro documento escrito no Brasil. No texto, Caminha conta que o fartes foi oferecido aos povos indígenas nos primeiros contatos com os portugueses – e não foi muito bem recebido. A receita, de todo modo, fez parte da tradição culinária lusitana que marcou o Brasil colonial, mas hoje é pouco conhecida no país. Doce fartes é uma receita portuguesa, preservada no Ceará, e que também ganhou coco em sua composição Marcelino Júnior Em sua receita, a massa do fartes é semelhante à do pastel: leva farinha de trigo, ovos, manteiga, sal e água. Já o recheio é uma miscelânea de sabores: leva açúcar, amêndoas e especiarias como cravo da índia ou gengibre. No Ceará, o fartes recebeu alguns ingredientes locais, como a castanha de caju, a farinha de mandioca e, claro, a receita, assim como o pão, passou a levar coco. A preservação da receita rendeu à doceira cearense Rita de Cássia o título de mestra da cultura popular do Ceará. Ela produzia o fartes desde 1958 e dizia ter herdado a receita da sua madrinha, a doceira Semírames, que viveu até os 100 anos. Rita de Cássia faleceu em setembro de 2024, aos 90 anos. Embora sua receita tenha sido preservada em Sobral e nas redondezas, a tradição do fartes desapareceu de boa parte do território, um caminho diferente do pão do coco, que se tornou tão popular que começou a ser feito não só no período de Páscoa, mas no ano todo. Assista aos vídeos mais vistos do Ceará

FONTE: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2025/04/19/entenda-como-o-pao-de-coco-se-tornou-uma-tradicao-de-pascoa-no-ceara.ghtml


#Compartilhe

Aplicativos


Locutor no Ar

Peça Sua Música

No momento todos os nossos apresentadores estão offline, tente novamente mais tarde, obrigado!

Top 10

top1
1. Deus Proverá

Gabriela Gomes

top2
2. Algo Novo

Kemuel, Lukas Agustinho

top3
3. Aquieta Minh'alma

Ministério Zoe

top4
4. A Casa É Sua

Casa Worship

top5
5. Ninguém explica Deus

Preto No Branco

top6
6. Deus de Promessas

Davi Sacer

top7
7. Caminho no Deserto

Soraya Moraes

top8
8.

Midian Lima

top9
9. Lugar Secreto

Gabriela Rocha

top10
10. A Vitória Chegou

Aurelina Dourado


Anunciantes